sábado, 24 de setembro de 2011

Carta às Tuas Aflições

A gente passou a noite ouvindo Legião Urbana, e todo mundo comentando como é a tua cara. Disse a ela pra não misturar as bebidas. Mas tu sabes... Acho que a culpa perdurou ali, naquele momento. Vomitou o sofá todo do Joãozito. O que vi, meu bem, gostaria de devolver às estrelas esta visão. A festa acabou logo depois, todo mundo percebeu o entusiasmo desastroso dela, coitada... Dei-lhe um beijo na face e voltei pra casa, bem sóbrio. Parece-me que ela dormiu na casa do João, e o que dela já conheço há tempos, deve ter chorado a noite inteira, culpando-se tu sabes por que.  E bem que lembrei de Quintana, entre um verso e outro:
“Quiseste expor teu coração a nu.
E assim, ouvi-lhe todo o amor alheio.
Ah, pobre amigo, nunca saibas tu
Como é ridículo o amor... alheio!”

Essas canções que tu conheces bem. Nem sei por que a verdade exposta dos fatos assim pra ti, mas a preocupação me tomou. Esses estágios avançados de amor... Eu sei, também, que tu sabes. Ela não está bem e nem a de ficar tão cedo. A barbárie de dissimular um sorriso, em meio do ar tragado de fumaça suja, mas que aspirava flores. As flores, tu sabes, tem cheiro de morte, de efêmero e lancinante. Efêmero, porém, somente as flores e os sorrisos discretos de vocês. Mas quando ela me diz, com um ar sarcástico, que não sofre, clamando um abraço apertado, não fala direito. A voz treme feito seu corpo em uma noite dessas de tempestade, quando a fiz companhia. Chorou feito criança. Fiquei pensando com meus botões, sem dormir, afagando seus cabelos... A gente destrói tantas coisas das quais se ama, sem pensar, sem crer que na realidade se tem mesmo é medo da felicidade, da bondade de alguém. E então aquilo acontece. A noite inteira de tempestade chorando... Culpada.

A gente sente saudades tremendas de ti, de correr no jardim, de brincar com os cachorros. Não esquece. E compreendo, definitivamente, sua tão necessitada distância nesses tempos.

Te amo muito, assim sem noção e com exagero, do teu menino e amigo Renato.

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