segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

No Mar



Já pensei muitas vezes em me largar pelo mar, 
estonteante curso conduzido de outras vidas,
entre fluídos e convulsivos sulcos marítimos,
falho cálice embebido de seda e embriaguez. 

Já pensei muitas vezes em me largar pelo mar,
sucumbir à relva clara dos olhos de d-us,
e perante a clarividência azul das mãos,
saciar-me sob tal coisa. 

Já pensei muitas vezes em me largar pelo mar, 
este eco de vidas muitas
soltas e plenas,
quem me dera colhê-las à palma e num feixe de olhos abertos
conduzirem-me n’água. 

Foi-me a fé,
a real harmonia das eras foi-se.
Batem-me aos dedos o cheiro marujo,
chamam-me vidas.
Colhem-se vidas. 

Os homens se vão fincando à mesa,
terra estática de ninguém. 

No mar,
o mundo abre a alma
divina e clara. 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Chão

Vim dos fascículos pedaços de sombras endireitados,
da cruel genialidade dos homens,
do visgo preciso de Deus
que entre as frestas de luz não me deixou parar de sonhar.
Tenho no enlace do meu ser

a dor que gera dos pequenos uma fútil catarse longínqua.
Tenho nos dedos o sangue moribundo dos pequenos,
na sorte um batismo nordestino,
cuja textura desemborca às raízes minuciosas de meus entes.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Só sei que estou encoberta com gosto e cheiro de chuva,
com larvas marinhas,
suor e lágrimas astutas
envolvidas n'água.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A de relevar-me tal solidão miraculosa. Sei, que inevitavelmente egoísta, assemelha-se à minha fiel estadia no mundo. É como se mais tecidos largassem-se da pele assim como vozes soltas no fundo espaço. Tal qual somente eu escuto. A de relevar-me esta solidão miraculosa, nua espádua a soltar-se de mim, tácita correnteza  fluindo curso abaixo. É como límpida crueza de mim, junto aos ares tormentantes que tocam. Sem mais, há espetacular proeza que se assemelhe à franqueza solidão dos ambíguos?

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Não! Não sou escritor, nem muito menos ser convicto de paz! Sou nervos precisos e abundantes rumo à estadia de caos, a minha, a sua. Talho verde rompendo as esporas precisas do ar. Se ficar, pereço, se entornar a passagem para ir, estagno. É tudo fio de seda permeado de combinações, espaço abrupto entre um palavrear e outro. É tudo sonho, bem-me-quer, malmequer, solidão extasiada de vida através da janela embaçada com letras maiores. É tudo meu, absolutamente seu, uma vez que a proeza do estar e ser no mundo não a de me rondar certamente só. É tudo vívida estadia de bagunça incansável de almas, rabisco lancinante ora estreito, ora alongado. É tudo um permear de fundas pronúncias rompidas com um vômito: (in)definidos borrões presos no incansável talhar do ser. Impor as letras nada mais é que um pânico, espasmo singelo entre a dissonância de revelá-las e a sensação de possui-las.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Lápis de ceras desenham espaços
e riscam sonhos em cada palma,
pautam sorrisos em cada cura
e afinam em partituras harmônicas coloridas.

Lápis de sedas desenham tempos
e riscam abraços com cheiros de flores,
que desaguam à fresta da vida,
mas perduram em eternidade concisa.

Lápis de prismas desenham curvas
e riscam refretores exatos de lúmens,
apagam os mesmos
e entre feixes reclusos movem-se como novamente.