domingo, 28 de agosto de 2011

Mudança

Nem o sopro conciso do vento,
concretude de um silêncio,
arrasta das sombras teus pés.
E como areia que se move e se transforma,
fico e tu vais.

O que mais que peço, senão a revelação dos astros?
Do formidável ar que te ressurge,
com os dedos severos e silenciosos.
de um outro ser contrário.

Deixa-me ir,
quando o amor ataca mais preciso,
e não quer ver no teu rosto uma menção a ele de perigo.
Deixa-me ir,
que os nervos atacam, quando a imagem se propaga,
e os teus olhinhos carregam outros ares.
Que nem tu mesmo conheces.

sábado, 20 de agosto de 2011


O ávido cheiro das ruas, entrecortando entre o cheiro de esgoto despejando-se na sarjeta um trajeto desprezível, e o cheiro volúvel do povo a passar descarado, gritando em noite de agito. Convulsivo, o ar rogou-me disfarçar a cabeça, andando baixa, sufocando a respiração. Repentinamente, inibiu-me, corei, corri a esconder-me na nefasta solidão do meu corpo em extremo, entre o ser banido e o ser incluso. Ludibriei as luzes da rua 27, e conquistei  a sensação de liberdade já perto de casa, com o mesmo jeito que estava anteriormente. A mesma cor, cheiro, carinho e sensação de firmeza me correndo as veias.

domingo, 14 de agosto de 2011

Cicatrizes

As feridas expostas no limbo,
traseunte entre um orifício e outro,
rompendo dolorosas manchas escuras
nos olhos, peito,
mãos e braços.

O sustentar do ócio,
da insolação condensada à leveza.
Os últimos suspiros da noite,
a comida posta ao chão,
vomitada.
As feridas expostas,
pálpebras abertas, cômodas à cama.

Vento penoso tocando-lhe a face.
Doente incolor.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Quietude

Supões convencer-me o amor como não sendo uma mancha? Já disse-lhe. Franziste até o queixo, sem gostar. Ele é uma mancha. Convencer-me de outra maneira não é uma boa escolha.
Retraia-te com qualquer coisa, vá deitar, dormir com os anjos. O amor é uma mancha, que entorna à toa no corpo, alma e face. É assim que deve ser.

domingo, 7 de agosto de 2011

Vida Breve à Morte

Nem de longe sei o nome dos astros,
nem dos últimos traços de luz,
nem da seiva posta ao chão, esmorecida.
Não sei a cor das mãos quando fúlgidas,
alheias e sem embalo.
Não sei por onde rondam os evadidos do mundo,
ou se nos consolam o peito pequeno dotado de dor.

Não sei o lugar onde as estrelas ecoam seu canto quando perecem,
não sei do que é feita a substância dos anjos,
e nem quando o tempo condensará a existência a um efêmero suspiro.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Do Avesso

Saia,
do âmbito,
das horas,
do meu ar.

Saia,
do meu corpo,
rosto,
sombra e água.

Angarear
teus passos não tem sido
tão escroto.
Não me devoto do teu rosto.

Vivo do avesso.
E tudo está em paz.