sábado, 28 de abril de 2012

Evita-se o tempo e profanando-o ressurge a vaguidão e os ermos. Há fábulas que não se desmaterializam facilmente. A sobrevivência à adversidade molda o resto dos dedos.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Aquarius

Quem é mais sentimental que eu?
A dose do efeito que se espele do feito.
Oh fina calma estranha, Aquarius. Foste tu que saistes do frasco de ar pintado de finas estampas,
criou nos olhos a leveza da alma
e lapidou os sonhos como um estranho de quimeras.

Deixe-se tudo como está, o estrago, o gasto. Deixe que a fé arrebate as águas e reme ao eterno.
Virgo ao céu denota, e abre as mãos e doa. À Lua reluz teu ar suplanto e guarda para os mundos o amor de Aquarius.
- Não odeie à Virgo, o fisgo do mundo perfeito, alinhado e vívido. Ele também ama os maiores mistérios e os moldes mais delicados. Suas constelações são as maiores, assim como as suas.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Dezenove

Saiu do átrio, num impulso, por dentro da luz azul da tarde de cinzas. Corpo dançante, esquivo, os cabelos soltos para o nada.
Encontro de almas, meu tempo, o teu: a falta. Num abraço absoluto, sondei-lhe o sagrado.
Eu sabia, seus dedos ainda tinham cheiro de poesia envolto à tristeza das eras. E mesmo quando tudo é nada, um estado convulsivo, ainda sim, mostra-se beleza o súltimo suspiro.

Todo o Sentimento - Chico Buarque

Chico e seu ar poético no coração dos amantes.
Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente.
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar e urgentemente.


Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez,
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez.


Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente...
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.

Depois de te perder,
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada;
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu

quarta-feira, 18 de abril de 2012

"Amar é um coisa tão sublime, é tão mágico. Não entendo por que tanta rotulação, tanta invenção. Por isso é cansativo sabe, acho que tenho amor demais, mas as pessoas não estão preparadas para isso. Todo mundo é tão limitado..."

(Karine Pantoja)

terça-feira, 17 de abril de 2012

Janta

Eu quis te conhecer, mas tenho que aceitar
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
Pode ser cruel a eternidade
Eu ando em frente por sentir vontade


Eu quis te convencer, mas chega de insistir
Caberá ao nosso amor o que há de vir
Pode ser a eternidade má
Caminho em frente pra sentir saudade


Paper clips and crayons in my bed
Everybody thinks that I am sad
I'll take a ride in melodies and bees and birds
Will hear my words
Will be both us and you and them together


'Cause I can forget about myself
Trying to be everybody else
I feel alright that we can go away
And please my day
I'll let you stay with me if you surrender


Eu quis te conhecer mas tenho que aceitar
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
Pode ser a eternidade má
Eu ando sempre pra sentir vontade.

(Marcelo Camelo)

segunda-feira, 16 de abril de 2012

- Acho que seus versos se parecem com você.
- Sou triste?
- "Mas pra fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza. É preciso um bocado de tristeza. Senão, não se faz um samba não."
- "Não sou alegre nem sou triste, sou poeta."
- Uma folha solta, és tu. Franzindo o véu do tempo em tua testa. E eu?
- Pássaro novo, afoito, convulsivo. Poético. Cuidado com os moinhos de vento.
- Tomarei!

sábado, 14 de abril de 2012

Costas, pele, energias e flancos abertos.

Dorso à amostra,
a febre irradiada nos rins,
mãos e embaraço à fronte

irreconhecível da sensatez com que se eleva a carne.

Mãos e fatos,
feição e espasmos.
Um tipo de Guia à frente do universo que grosseiro remedias,
e como numa encosta ao dorso meu nu revelas o palpitar do coração,
mantenho-me em sopro e inércia revestida de seda.
A mão que apedrejou, afaga e transpõe os mesmos olhos de outrora.
São finas camadas de lúmens sem medida que se soltam e fisgam na alma
alguma aparente paz. Reconhecível.


sexta-feira, 6 de abril de 2012

- Se eu fosse apaixonada por você, devoraria o teu corpo. Mas é que não sou. E isto é outros quinhentos, é um outro causo. Deixe-me.

Escura e estranha o bastante, Alice saiu e bateu a porta com raiva e um sorriso no canto da boca. Sarcasmo e putreficação de mãos ausentes. Num canto escondido depois do batente da sala contorceu-se dentro de um chorou feito criança, perdendo inúmeras canções das árvores lá fora. Esperava um sopro singelo no rosto. Até quando fosse tempo.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Elevar-se em Vôo

Vou cantar-me uma elegia, um caos branco e fúnebre,
uma oração que disponha os olhos do meu bem num sonho,
e um silêncio que o embale para todo o sempre, amém.
Cantar-me-ei um convulsivo estado de insensatez,
um feitiço vaidoso a perdurar minha face no teu lúgubre inserir de glória!
E hão de perecer nossas nuas almas em longínquas sintonias,
em traços eternos de distâncias efêmeras.
Tu não vais sair deste hospício!
Ficarei girando nas estrelas as cruezas dos teus dedos amáveis.

Vou cantar-me um final de prosa, um caos branco e elevado,
uma lira dos vinte anos ausentando-me em Álvares de Azevedo,
um encontro com os deuses Tânato e Hades:
O jovem Chatterton belo e jovem em sepulcro,
ventos a lhe tocar a face com doçura e arrancar-lhe os olhos
com maldade.
Cantar-me-ei na loucura dos mundos um olhar afável
de quem não se vê conquistar o rude e insano esvoaçar de areias.
E assim saberão das motivações que o mundo lhes dão:

Corpo, alma e solidão.

domingo, 1 de abril de 2012

- É que eu tenho andado áspera, rude como as pedras que se soltam e rolam  caminhos abaixo. Nem mesmo Luiza tem me compreendido, temos nos revirado como duas amigas que se odeiam na presença. Já senti vontade de puxá-la o cabelo pelo simples fato de me contrariar. Esta minha indagação sobre correr demais, ou estancar de vez no mundo tem consumido o folêgo, e me lembrado que nós somos destruidores de dádivas. Sim, custa-me dizer com muita infelicidade que isto soa sim como verdade absoluta. E quem sou eu para admirar esta ação, senão um ser a abominar tal proeza. Sim, eu tenho andado rígida, como a última pedra do pico elevado dos deuses. Já os toquei, e como quem pretensão tem, não me devoto dela. Apenas os ecos de vozes abstraí, logo depois um maremoto de sonhos desmoronaram flancos abaixo, a dissolver o corpo e findar os olhos. É, experiência voraz. Mas eles ainda sorriem, não como um deboche, mas pela insensatez rude com que nos eleva, humanos.
Fiquei, esperniei, assim como uma criança que sente ir embora seu sonho de chocolate. Rasguei minhas roupas e me deitei como um louco a almejar o asbtrato universo do Olimpo. Que vergonha escalar os montes e rogar com fé, mas escorregar num feixe mórbido de luz, que nem se quer conhece o véu que o sepulcra. Um véu a cobri-lo de sonhos, que foi arrancado. No chão do vago lugar onde os deuses haviam pisado, lapidei meu último choro humano, e me foi determinado dormir pelo resto dos séculos amarelos.