quinta-feira, 30 de junho de 2011

"Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida." (Clarice Lispector)

terça-feira, 28 de junho de 2011

É que eu não sei muito bem pra onde a vida vai me levar. E neste estado de evolução, o mundo vai dar voltas incessantes, e nunca se poderá parar para ver o brilho da estrela. Vamos estar alheios, com medo.
Gostaria de nunca ter crescido.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Paixão


Condensar a carne,
estatelar os nervos,
petrificar os olhos.

Formidável estrela que cresce,
entre os poros,
rasga a cor, a dor,
os panos imundos
de pegadas fortes e densas.
A estrela que cresce formidável,
encarcera no riso a lástima,
o frasco trincando e abafado.
Falta o ar,
mais uma vez
no cárcere.
 
O frasco trincando e abafado,
acho que vamos explodir,
meus eus.

sábado, 25 de junho de 2011

Não se afobe, não.

- Deite no meu colo e chore, não se afobe. A vida não tem pressa, caçoa de nossos olhos. Depois durma em paz, já que amanhã sempre ressurge ao lado de outras história boas...
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

(Chico Buarque - Futuros Amantes)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Grande Menina

Teus olhos de menina,
impulsionados pelas horas,
manchados de fome, sede.

O futuro é um abismo,
lascado de seda,
perfurado pelo medo.
Tens medo,
amigo das flores envolta ao teu cérebro.

Teus olhos de menina,
entre um sorriso astuto de neve,
convulsivo, elevado,
fazedor de uma poesia encantadora.

O tempo é um abismo,
estranhos modos que ele impõe,
ligeiras folhas que resgatam do chão
a sola do teus pés.


E tu conheces bem o mundo,
que é o mundo dos pés,
dos homens que olham para os pés.
Não enxergam as canções.

Para uma grande amiga: Kika (Thaís Souza)

terça-feira, 21 de junho de 2011

Superfície

Repara nos homens,
meninos peraltas.
Repara na flor,
franzida de néctar.

Repara no estranho,
formidável que age,
afaga,
enaltece as feridas.
E rasga,
Tira o sono.
A paixão também.
Repara no engana,
interdito,
repara na finura dos dedos,
lascados de amor.

Repara nos sonhos,
estrelas marinhas.
Repara meus olhos,
teus tácitos admiradores.

- Não me roube nem por um segundo. Não... Roube-me. Tenha pena, dó. Tenho medo.

domingo, 19 de junho de 2011

James

Frio,
o corte,
junto à sombra do seu pulso,
estatelado no auge.
Vi-o a alma dançante,
como a última poesia que o embebedara.
O corte,
as farsas do seu rosto no chão.
Vi-o a alma dançante,
como a última poesia que o embebedara.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Não ande, corra. Não corra, ande. Não viva, viva sim.

Não é verdade quando dizes que aproveitas a vida pela máxima exaltação que dela fazes. Aproveitas por que há beleza nela, proferindo cada momento? Não, aproveitas a vida por medo de perdê-la breve e desatinada, num estorvo que te faça romper o caminho. É dessa forma então que moldas de costume a linha que deverás traçar nos moldes da vida, breve vida. E não me parece estranho que este efeito seja de natureza tão levemente humana. O mundo é mesmo bão, Sebastião? Ou será que este silêncio que exalta em nosso peito é apenas uma escárnio do vento?
O amanhã é apenas um tempo que não se sabe, movido pelo interior de nós mesmos de sempre vê-lo, e fazê-lo um presente aos nossos olhos. Mas temos medo, medo de não traçá-la, a linha, nos nossos moldes de vida. O medo é a angústia, permeada de um caos absluto que instala, por não saber de que maneira se deve ir, chegar ou dizer. Escolher. O futuro é aqui, agora, já estás traçando-o, já estás discernindo o caminho que virá. Ou pelos menos estás a se atrever. Vive-se a vida com medo de terminar o ar. Vive-se o presente e o futuro do mesmo modo, aproveitando-se os dois, e o último com todo o medo possível de não avistá-lo.
Eis que o mundo nos ressurge pequeninos, diante do frágil paradigma que existe, diante da possibilidade da infinitude que se perde a cada passo da vida. Acolha-se e não viva mais o que deves viver, nesta rotina crua que amofina os olhos presentes e difunde poesias futuras. A poesia é o tempo infinito, é o sentimento mais lucrativo, prazeroso. Efêmera e Eterna. Tu és também, já que és matéria dela.


segunda-feira, 13 de junho de 2011

Então se faz a tristeza, bela estranheza que nos cerca.

- É sempre uma grande maldade retirar-te do meu peito como uma raiz sufocante.

Vi-a na tarde, um sol escaldante, pequenina ecoando aos ventos qualquer sensação, sentada no último banco da praça, com os olhos escuros demais. Ninguém sabe como bela é a tristeza, quando dela se sabe o que há por dentro, bem por dentro. Dava uma retrato exposto em preto e branco, ou mehor ainda: Uma pintura, modelada de cinza, verde e branco. Vi-a na tarde escaldante, seus olhos esmorecem à consternação, abrir-se sem querer, volver-se sem levantar a cabeça. Fraco coração dissolvido entre as horas formidáveis que elevam o tempo. Levantou-se tonta, franzindo a testa, com os lábios secos, arrodiando pelos fundos até a saída. Morrendo de amor, morrendo de amor... Impeliu a flor amarela no lixo, e saiu, mais uma vez, com a cabeça baixa.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Sinal Fechado

- Olá! Como vai?- Eu vou indo. E você, tudo bem?
- Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E
você?
- Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo...
Quem sabe?
- Quanto tempo!
- Pois é, quanto tempo!
- Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
- Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
- Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
- Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
- Quanto tempo!
- Pois é...quanto tempo!
- Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das
ruas...
- Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
- Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa,
rapidamente...
- Pra semana...
- O sinal...
- Eu procuro você...
- Vai abrir, vai abrir...
- Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
- Por favor, não esqueça, não esqueça...
- Adeus!
- Adeus!
- Adeus!

(Paulinho da viola - Sinal Fechado)

Ele sai antes das cinco, não vejo mais seu rosto rodeado pelo sol, minha mãe amanhece comigo, meu irmão dorme contando histórias. Dorme de cansaço, pela metade deixa a conversa.
Faz tempo que não lhe vejo, esqueci da sua face? Nem sei como estão os olhos deles, nem sei quando a tristeza os amedrontaram. Não sei como vão. Não sei mais para onde vou. A saudade é meu abrigo, pior inimiga dentre o tempo que acelera.

Citar

A pele esquentada, a voz, um rock vagabundo e a chuva. A dose de demasia medida, a face golpeando no ar a luz amarela, desbotada. O céu cantando, feitoria dos anjos. Sem cobiça na dança, sem cobiça de aspirar. Sem fome. Os dedos varrendo as letras, o vento os sentidos. A vida que curte comigo é a mesma que desanda os pés, é a mesma que provém o resto. É ela que passa, no decorrer do tempo, como sendo sempre a mesma. O tempo não. Escarro, falo, mancho na tela, pinto de verde os lados e de azul o fundo. Depois cuspo na graça. Vou embora, junto com os pingos de água correndo pelas ruas. Não deixo rastro, ando no silêncio e na rapidez das horas, juntando traços de gente que eu nem sei quem é. Junto traços de gente, depois me junto. Dentro de uma sexta-feira, um frio, uma canção. O coração desapontado.

domingo, 5 de junho de 2011

À Tarde o ar, de um março tristonho e infinito.

A tarde,
fadiga entornada,
calor e água.
O sol queimando tua retina,
pupila dilatada,
a cor dos olhos manifestando-se mais clara.
Castanha.
E por dentro da solidão grosseira do ar que remete
um poema,
à margem, à risca, para levar a mim mensagens infinitas.
Um tom em dó,
e a tarde pondo-se a descansar na aquarela noturna.

sábado, 4 de junho de 2011

Incômodo

Que a cor do céu transborde,
de azul cristal,
e entorne,
o corpo pálido, frágil,
sem desejo,
pondo-lhe um fado no beijo,
pondo-lhe ardência e desejo.
Que a cor do mar transborde,
fatídica,
varrendo de dentro o ar,
caótico,
que é seu, somente seu.
Retire-o!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Destino Voraz

Não sei bem, talvez você me esqueça, em uma dessas esquinas vazias. Talvez o teu peito impune ressurja no auge de um outro amor. Ai, que dor. Ai, que dor...
Não sei, meu bem, se é só vaidade. Esse caso de amor, que já virou torpor, é só vaidade?
Não, não me caiba no bolso, mas sim em um arcabouço somente teu. Somente teu.
Quando a fome obter no teu peito esta lástima de querer bem, desculpe-me ir. Você está indo também.

O Recomeço

Ah, eu não sei bem quando ela age, enorme em minha alma, a poesia, que desconcerta, acelera, mescla e invade. Sem dó. É ela que semeia a beleza que há no vento cortante.