domingo, 10 de julho de 2011

Vale Encantado

As vestes que ela tinha pareciam asas longas de borboletas cortando o espaço, pairando nas mãos de anjos pequeninos. Um sorriso festivo, e seus braços e pernas dançantes sobre folhas secas, dissolvendo os restos do mundo nos dedos dos pés. A força do vento jogava-a de canto em canto, por entre a leveza dos montes, roubando de suas pálpebras qualquer menção de morte. E sua pele ocultava-se, pois de hora em hora completava-se clara ou mais escura, enquanto os riscos dos dias soltavam dos olhos um marrom instigante.
As vestes que ela tinha pareciam asas longas de borboletas, suaves, de um encanto voraz, doando a insolação para os rostos dos rapazes. Soltavam-se plumas dos dedos, e suas mãos formavam gotas de orvalho, cuja flor doou seus laços ao aroma de seu corpo.
Condensando-se a luz, rodopiando ainda por entre sua alegria, a tímida noite no canto aparecia, dando as bênçãos à Estrela Maior. E enquanto seu corpo rodopiava, as vestes soturnas lhe acariciavam a pele de criança medrosa, que sorria, sorria. Seus dedos moles foram esmorecendo, as pernas e braços cansados volvendo-se à terra, ao chão. E seu coração sorrindo deitou-a com os olhos já fechados, taciturnos e belos, para que seu sonho não fosse jamais perturbado. Ela ficou, adormeceu, com as mesmas vestes, braços e pernas dançantes, com as mesmas mãos que formavam orvalhos. Dessa vez em seu humilde sonho. Seu coração nunca mais a despertou.

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