sábado, 15 de outubro de 2011

Esmorecidos

Poderia mostrar-me o rosto escandalizado e tímido num gesto sem ação. Aquela arma apontada ao feto, o vício correndo no meio das ruas sujas, entre homens calçados com solas duras à frente do ápice, da calmaria da cidade. Poderia acreditar que entre um corpo e outro semelhante, você pudesse me acordar no meio da noite, sem correria e morte vermelha de homens frágeis, sem que a dura face pudesse mostrar-se tão banal e sem amor. E que o rosto daquele rapaz jovem despedaçado pelo mundo, pudesse ter sido devolvido à ordem e obrigação de viver. Fora sua escolha? Quem sabe não. O maior mal do homem é tirar de outros a realidade que deste se desfez.
Enquanto as flores vomitam no meio da noite cascos de vidros, sonatas sem harmonia, arremessos de fogos contra essa gente, o sonho da poesia apodrece em cada esquina retirante de ideias, entre a loucura de um universo pesado e outro tão cru quanto a dor que consome os rostos abortados.
- São quase cinco.
- Da manhã?
- É claro. À noite a natureza dos sonhos aparece, é tudo mais claro. De manhã o mundo acorda, e faz brotar do limbo horizontes tristonhos e sem perspectivas como a gente.

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